sábado, 29 de janeiro de 2011

BETO BETOS

Hoje eu me lembro dele como um fluido,modelando-se ,transformando-se, em quadros,em forma de esculturas,vestindo-se de chita dançando fazendo arte,gargalhando,ouvindo música me apresentando cantoras ,como Cesaria Évora. Ouço chamar-me de minha marida, e dizer que no dia que se transformar-se em boto me comeria .Era assim o Beto que conheci bonito,sedutor brincalhão e.em uma madrugada ,no final do ano de 2006,eu o perdi,nos o perdemos.O telefone tocou e abruptamente ouvi:mataram o BETO, fiquei estarrecida, emudeci só não chorei,mão sei chorar,mas queria que toda a cidade chorasse ,desejei ter carpideiras por perto para chorarem por mim ,queria que o mundo emudece,silenciasse pela perda ,pela violência cometida.Quantos sonhos interrompidos,quanta brutalidade,não assassinaram mais um homem, mataram um artista ,retiraram do nosso convívio mais um sonhador.Eu conhecia,seus hábitos ,seu humor, as vezes chegava na `minha casa almoçava calado, deitava, e dormia eu já sabia que ele estava mal,estava deprimido sofria do mal do século, a depressão ,eu respeitava seu silencio,depois ele acordava ria brincava imitava pessoas ,voltava ser alegre.Nossa relação era de amizade,não poderia ser diferente, seria incesto .Como ficarão suas guris da casa da esperança sem seus murais,e os do colégio sem suas artes,onde você inaugurou,sua casa de taipa ,que outros amigos encontrou por lá,com certeza muitos,novos e velhos conhecidos, tinha uma facilidade enorme de comunicar.quantos Betos existiam em você,o Beto menino moleque brincalhão,o feminino sensível ,o homem sem trejeitos sem guetos, o espiritualista orando nam-myoho-rengue-kyo,o artista.Quantos Betos existiram do lado de lá.......

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O HOMEM DE (DA) LUZ

Quando decidi escrever minha historia, a idéia é que ela se passaria a partir da data da minha separação. A discrição foi mantida, embora parecendo estranho, falarei sobre meu avô, e o que ele representou para minha vida, pela genética e por seus valores. O ambiente em que vivi difere em muito do que ele viveu espacial, temporal e economicamente, além da questão de gênero. Mas o patrimônio genético que ele me deixou é impagável duas dádivas, duas referências de conduta, a utopia e a justiça. Era uma vez um homem filho de família política e rica em Baturite que não aceitava os arcaicos lampiões de gás que adornavam as ruas, embora belos e românticos, a luz elétrica significa o progresso e bem estar dos cidadãos. Representava músicas, para as moças casadoiras que poderiam tocar piano ate mais tarde, para suas famílias e seus amados, os moços românticos poderiam fazer serenatas em noites sem luar. Concebia em primeiro plano o desenvolvimento para a bela cidade serrana. Concluída esta etapa ele saiu como mambembe, instalando energia elétrica (luz) em outros municípios, Itapipoca, Tururu, saiu acompanhado o sonho. É admissível ser poético e visionário. Foi este homem bondoso e sensível que me fez ver que é possível admirar os homens. Incapaz de magoar. Quando criança lhe pedia muitos presentes e muito caros, com sabedoria me dizia que a fabrica estava fazendo,quando concluísse me traria, eu ficava feliz com as pequenas e simbólicas lembranças. Como não acreditar naquele que não dizia mentiras, apenas adiava a entrega dos presentes, como era de se esperar do agora pobre e bem-aventurado vovô Horacio.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O quadro (o mangue)

Um mangue representa a vida como unidade,simbioses, parasitismos ,comensalismos,organismos unicelulares,pluricelulares,animais,vegetais, minerais, luz em suas inúmeras freqüências ,improvisando profusões de cores.Foi esta a idéia de pintar meu primeiro e único quadro.Não digo que seja o último.Mas ,citarei a experiência do primogênito. Aconteceu nas belas falésias de canoa quebrada, na casinha de pescador onde eu morava e próximo do local onde eu trabalhava.Meu professor tinha que ser ele,só poderia ser ele,uma figura insólita,refinada em alguns momentos ,debochada em outras.Nossas aulas eram festas,sempre com amigos ao redor.Nos momentos de refinamentos do professor, ele ouvia ária de óperas e tomava vinho,em outros,não tinha preferência musical,nem alcoólica.Meu mangue alem do óbvio, tem um barquinho e pegadas,não sei de quem,de onde vem nem para onde vão ,gostaria que fossem minhas,teria encontrado o meu lugar pálida um pouca cansada, contrastando com o vermelho intenso de algumas espécies de caranguejo,com a brancura das garças ,o verde escuro da vegetação ,o cheiro forte das águas as vezes límpidas ,as vezes toldadas como a instabilidade dos sentimentos, e carregam a vida e morte para um mar sem fim.